Imagina o que seria, na tua escola, teres uma opinião diferente da dos teus professores e da dos teus colegas e, só por isso, seres fechado numa sala ou numa arrecadação como forma de castigo por pensares de forma diferente. Mas em Portugal, um pouco por toda a parte, era o que acontecia.
Para isso era preciso que houvesse uma polícia que vigiasse os movimentos e as opiniões das pessoas e que as fizesse terem medo de pensar de forma diferente. (...)
A PIDE não tinha só agentes, chefes de brigada e inspectores. Também tinha uma impressionante rede de informadores por todo o país (...).
Durante muitos anos foram presas milhares de pessoas só por defenderem pontos de vista diferentes dos oficiais. Para os guardar bem guardados havia várias prisões. As mais temidas eram as de Caxias, de Peniche e o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Muitas pessoas que lá entraram não saíram com vida. Os jornais nunca puderam noticiar essas mortes.
José Jorge Letria, O 25 de Abril Contado às Crianças... e aos Outros, Terramar, 2004
Saboreio a expressão que salta da pena de não sei quem ao examinar o contraste vivo da nossa desordem de ontem e do nosso viver de hoje: o primeiro, agitação permanente, mutações rápidas da cena política, desordens na rua e nos espíritos, anarquia e insuficiência dos serviços, falta de segurança das pessoas e dos bens, descréditos e ruína da economia, atraso geral, muitas revoluções, nenhuma revolução; depois a Ditadura, que estabelece a paz, assegura firmemente a ordem, saneia a atmosfera moral, cerca de dignidade a acção política, desenvolve a economia, faz subir o nível de vida das populações rurais, proporciona o trabalho, organiza em obediência ao interesse comum os diferentes interesses materiais e morais da Nação, cobre-se de prestígio no mundo.
Salazar, Discursos de 1934
Em Maio, o campo conta com 1200 prisioneiros, entre eles membros dos partidos social-democrata e comunista, católicos, juristas e médicos judeus.
1941: 3250 prisioneiros são mortos nas câmaras de gás.
1942: chegam prisioneiros de guerra soviéticos. Entre 13 a 15 mil foram fuzilados.
Nico Rosi, Campo de concentração de Dachau
Em Auschwitz, pelo menos dois milhões e meio de pessoas foram mortas nas câmaras de gás e outro meio milhão morreu de fome e doenças. (...)
Lá trabalhavam dois médicos das S.S. que examinavam todos os que chegavam ao campo. (...) Os aptos para o trabalho ficavam no campo, os outros eram enviados para as câmaras. As crianças de pouca idade eram sempre enviadas para a morte, visto que não podiam trabalhar. Queríamos que toda a acção fosse mantida em segredo, mas o cheiro originado pela incineração dos cadáveres inundava toda a região.
Declaração de Rudolf Franz Hoss no Julgamento de Nuremberga, 1946
Compenetrado da consciência de que a pureza do sangue alemão é a premissa da perpetuação do povo alemão, e inspirado pelo indomável desejo de assegurar o futuro da nação alemã, o Reichstag aprovou por unanimidade a seguinte lei, que é proclamada pelos presentes:
1. Os casamentos entre judeus e sujeitos de sangue alemão ou assimilado são proibidos.
2. As relações extramaritais entre judeus e sujeitos de sangue alemão ou assimilado são proibidas.
3. Os judeus não podem utilizar no serviço de suas casas as mulheres de sangue alemão ou assimilado com menos de quarenta e cinco anos de idade.
4. Fica proibido aos judeus usar as cores nacionais alemães. (...)
5. As infracções ao n.º 1 serão punidas com pena de prisão. (...)
J. Carpentier e F. Lebrun, História da Europa
A nossa concepção racista não acredita de forma nenhuma na igualdade. Pelo contrário, reconhece que há diversidade nas raças e que o seu valor é mais ou menos elevado. Sente assim a obrigação de favorecer a vitória do melhor e do mais forte, de exigir a subordinação dos piores e dos mais fracos.
A cultura e a civilização humanas estão, neste continente, indissoluvelmente, ligadas à existência do Ariano. (...)
A concepção racista corresponde à vontade mais profunda da natureza ao restabelecer o progresso pela selecção. Assim, um dia, uma Humanidade melhor, tendo conquistado o mundo, verá abrir-se livremente para si todos os domínios da actividade. (...)
O Judeu forma o mais marcante contraste com o Ariano. (...)
O Judeu não tem mínima capacidade para criar uma civilização (...). A sua inteligência nunca servirá para construir, mas sim para destruir (...). O progresso da Humanidade cumpre-se, não por ele, mas apesar dele. (...)
Adolf Hitler, Mein Kampf, 1925
Exigimos (...) a reunião de todos os alemães numa Grande Alemanha (...). Exigimos territórios para a alimentação do nosso povo e o estabelecimento do excedente da sua população. Não pode ser cidadão senão aquele que faz parte do povo. Não pode ser cidadão senão aquele que faz parte do povo. Não pode fazer parte do povo senão quem for de sangue alemão (...). Por consequência, nenhum judeu pode fazer parte do povo.
W. Hofer, "Documentos", in Nacional-Socialismo
O novo movimento é (...) antiparlamentar, ou seja, ele nega o princípio de uma soberania da maioria em virtude da qual o chefe de Governo é rebaixado à categoria de simples executante da vontade dos outros. O movimento defende o princípio de que, nas grandes como nas pequenas questões, o chefe detém uma autoridade incontestada, comportando a mais absoluta responsabilidade. Aquele que quer ser o chefe carrega, com a sua autoridade suprema e sem limite, o pesado fardo de uma responsabilidade total. Só um herói pode assumir esta função.
Adolf Hitler, Mein Kampf, 1923
Cartaz de propaganda nazi, anos 30
1. Constituição de uma Grande Alemanha, reunindo todos os alemães com base no direito dos povos de disporem de si mesmos.
2. Revogação do Tratado de Versalhes. (...)
4. Apenas os cidadãos têm direitos cívicos. Para ser cidadão é necessário ter sangue alemão. Nenhum judeu pode ser cidadão. (...)
6. O direito de voto será reservado exclusivamente aos cidadãos.
7. Criação de um vasto sistema de reformas.
8. Os não cidadãos serão expulsos do Reich, caso o país não possa alimentar toda a população. (...)
22. Criação de um exército nacional. (...)
25. Criação de um poder central forte.
Do Programa do Partido Nazi (1920)
Não havia um movimento de resistência nem poderia haver. Em parte nenhuma do Mundo se pode desenvolver um movimento de resistência quando as pessoas se sentem melhor, de dia para dia.
Entrevista a Emmi Bonhoffer, irmã de Dietrich Bonhoffer, líder da resistência a Hitler, em 1989